quarta-feira, 12 de março de 2014

O Acampamento prevê a sina dos viventes



O Acampamento prevê a sina dos viventes 
Levantou arraiais hoje de madrugada;
Nos carros, as mulher, com a torva filharada
Às costas ou sugando os mamilos pendentes;
Ao lado dos carrões, na pedregosa estrada,
Vão os homens a pé, com armas reluzentes,
Erguendo para o céu uns olhos indolentes
Onde já fulgurou muita ilusão amada.
Na buraca onde está encurralado, o grilo,
Quando os sente passar, redobra o meigo trilo;
Cibela, com amor, traja um verde mais puro,
Faz da rocha um caudal, e um vergel do deserto,
Para assim receber esses pra quem está aberto
O império familiar das trevas do futuro!

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães

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